Após
trabalhar com as lendas do livro Lendas e Causos de Santa Catarina, o
2° ano do ensino médio matutino da escola Carlos Maffezzolli partiu para os
contos com Franklin Cascaes.
As
atividades iniciadas em agosto tinham como propósito retomar os contos da Ilha
de Santa Catarina, introduzindo o gênero textual contos. O livro O Fantástico
na Ilha de Santa Catarina de Franklin Cascaes traz histórias
fascinantes envolvendo bruxas: grande personagem do folclore local.
O
grande pesquisador da cultura açoriana, Franklin Cascaes, nasceu na praia de
Itaguaçu em Florianópolis e teve seu trabalho divulgado apenas aos 66 anos de
idade. Além da cultura açoriana em Santa Catarina, Cascaes também dedicou sua
vida aos estudos sobre religião, visando os aspectos folclóricos e culturais.
Em seus contos, utiliza-se da fonética para reproduzir a variação linguística
local.
Os
alunos tiveram contato com dois contos do autor: Vassoura Bruxólica e
Velha Bruxa Chefe. Segue o conto da Vassoura Bruxólica:
Vassoura Bruxólica (1946)[1]
(Franklin
Cascaes)
"É, neste mundo de Deus, há muitos mistérios e esta gente simples
aqui da Ilha vive estas coisas quase como uma realidade. Meus lobisomens,
bruxas, demônios e boitatás existem". Sempre foi crença do povo
hospitaleiro desta Ilha dos famosos bois de mamão que, na Sexta-Feira-Santa,
não se deve tomar instrumentos de trabalho para usá-los, seja qual finalidade
for. É também costume tradicional deste povo, descendentes de colonos
açorianos, que, na Sexta-Feira-Santa, a partir de zero hora, devem banhar-se
nas ondas do mar, levando consigo animais domésticos, para purificarem-se e
protegerem-se de todos os males do corpo físico e espiritual. As águas colhidas
nesta hora servem para todo o tipo de cura. É a fé, longínqua dos tempos,
aliada a superstição, ao medo e ao amor pela conservação do corpo físico, na
cura dos males que atacam o homem em franca vivencia espiritual e física com o
seu Deus. As forças atuantes de práticas religiosas freiam os instintos
animalescos do homem, encaminhando-o, espiritualmente, para viver com bons
modos junto com o seu Deus, com a cultura, na sociedade e consequentemente com
o seu próximo. Entrementes, sempre aparecem nos meandros desses cenários
fantásticos, e outros moderados, pessoas que se arrojam contra os poderes
divinos, maltratando esses conjuntos de sociedades freadoras, veículos
insubstituíveis de abrandamento de sofrimentos que martirizam e acoitam a
criatura humana. Um caso de desrespeito espiritual aconteceu há muitos anos
passados, lá pras bandas do sul da Ilha de Santa Catarina. A Maria Vivina,
moradora da praia dos Naufragados, fez uma aposta com a Carrica, de que, na
Sexta-Feira-Santa daquele ano, ela tomaria uma vassoura e com a mesma, varreria
o quintal de sua casa e, certeza tinha, nada lhe aconteceria de extraordinário.
Apostaram um par de tamancos contra uma botina. E firmaram a promessa da
aposta, casando-a. Quando a Vivina deu a primeira varredela, a vassoura
soltou-se de suas mãos qui nem um relâmpago, metamorfoseou-se em bruxa, ganhou
altura sobre o morro do Ribeirão da Ilha e desapareceu, num repente, no espaço
sideral das alturas incomensuráveis da quimera. A Maria Vivina caiu de joelhos
no terreiro, rezou e pediu perdão aos céus pelo ato impensado que havia
cometido contra as ordens divinas, chorando copiosamente. A Carrica abraçou-se
com ela e ambas choraram e sentiram o amargo do néctar da desobediência humana.
Nenhuma das duas era bruxa, porque a vassoura, que e um instrumento de montaria
de bruxas, foi embora, viajar pelo espaço sideral, sozinha. Oh! Minha querida
Ilha de Santa Catarina de Alexandria, és a graciosa sereia que repousa sobre
brancas areias de comoros errantes, sambaquis seculares, banhada pelas ondas
acasteladas do oceano, perfumada pela brisa acariciante dos ventos e enxuta com
as toalhas felpudas dos raios solares que beijam calorosamente seu corpo
mitológico”.
Livro "Lendas e Causos de Santa Catarina"
Livro "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina"
Franklin Cascaes
Imagens do livro "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina"
Imagem do conto "Vassoura Bruxólica"
Imagem do conto "Velha Bruxa Chefe"
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