quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ENTRE ACADÊMICOS: RESENHA PRODUZIDA POR BELISA




PARA FUTUROS LEITORES DO LIVRO TEXTO E LEITOR


Belisa dos Santos (Acadêmica do 8° Semestre de Letras, 2011/2, da Universidade Regional de Blumenau)

Texto e Leitor. Não poderia este ser um título mais propício para este momento: eu escrevo esta resenha e você a lê. Um momento em que estou aqui, escolhendo palavras, selecionando ideias, para que você possa compreender um pouco a obra de Ângela Kleiman (Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP – Pontes Editores, 2011. 14. ed.).
Angela Kleiman é uma autora que desenvolve pesquisas nas áreas de leitura, letramento e interação em sala de aula e é uma das grandes especialistas em leitura no país. Ph.D. pela Universidade de Illinois, EUA, e professora do Departamento de Linguística Aplicada no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, já escreveu outras publicações voltadas à área de Letras. É uma daquelas autoras que nós, estudantes de Letras, temos de conhecer e ter na estante. Independentemente de lecionar Língua Portuguesa, Língua Inglesa ou Literatura, a leitura é um processo envolvido em todas estas disciplinas, e o conhecimento sobre ela é essencial para qualquer professor.
Mas vamos à obra. O livro é leve e rápido de ler - são 82 páginas - porém requer atenção e concentração. É um livro para ser lido com cuidado, com o lápis ao lado, para sublinhar as partes interessantes ou fazer anotações. Durante minha leitura, vários foram os momentos em que parei para anotar algo, pois as situações do livro me trouxeram várias lembranças de situações vivenciadas em sala de aula (como aluna e como professora inexperiente). É um bom sinal: sinal de que a obra despertou em mim reflexões e pensamentos sobre a prática. Provavelmente, as anotações aumentarão com o passar do tempo – por isso todo livro deveria ser lido mais de uma vez.
A obra é dividida em 4 capítulos, cada um tratando de aspectos diferentes, mas que fazem parte de um todo na prática. Kleiman deixa isso bem claro, retomando sempre capítulos anteriores e mostrando a ligação entre eles. Além disso, a autora utiliza vários trechos de textos para exemplificar, o que auxilia muito na compreensão, pois observamos o conceito e sua parte prática.
O primeiro capítulo fala sobre o conhecimento prévio na leitura. Ou seja, tudo aquilo que o leitor possui de conhecimento geral, adquirido formal ou informalmente, ajuda na compreensão de um texto. Neste conhecimento prévio estão inclusos o conhecimento linguístico (conhecer as regras da língua, vocabulário, conceitos), o conhecimento textual (diferentes tipos de texto e, consequentemente, de diferentes estruturas textuais e discursos) e o conhecimento de mundo (o conhecimento geral sobre diversas áreas). É por causa desses conhecimentos que o autor pode deixar informações implícitas, a fim de obter economia no texto e não ter de explicar palavra por palavra, frase por frase. Além disso, é em virtude destes conhecimentos, também, que fazemos a leitura como um todo, observando título, publicação no qual o texto foi inserido, quem é o autor. Enfim, fatores extralinguísticos, fora do texto, que contribuem para o significado também. É a partir dessas inferências, ativadas pelo conhecimento prévio, que depreendemos o sentido global de um texto. Ou seja, a leitura é mais do que decodificação, de ler letra por letra; é um processo cognitivo que envolve diversas tarefas.
Já o segundo capítulo trata dos objetivos e expectativas da leitura. É um capítulo interessante para professores, pois tem muito a ver com as práticas que acontecem em sala de aula. Kleiman explica que estabelecer objetivos na hora da leitura facilita o processo de compreensão e memorização de alguns detalhes – o que é comprovado através de alguns exemplos. Entretanto, nem sempre isso acontece na escola. Quem não se lembrará de alguma situação em que um texto foi utilizado apenas para destacar palavras, deixando de lado o conteúdo? Dessa maneira, localizam-se informações, mas nada mais que isso. É o texto como pretexto. A autora analisa que, nessas situações, o aluno não desenvolverá estratégias de leitura, essenciais para torná-lo um leitor proficiente mais tarde.
No mesmo capítulo, Angela Kleiman ainda explica que o objetivo de leitura pode ser determinado pela própria forma do texto (leio uma receita ou bula com objetivo diferente de ler um romance) e que essas formas também mudarão nossos mecanismos de leitura (como dar uma rápida passada de olhos na manchete de um jornal ou ler seletivamente uma reportagem para ter uma ideia geral). São os objetivos e expectativas de leitura que nos conduzem a criar estratégias diferenciadas no ato de ler e que nos farão filtrar somente algumas informações.
No capítulo 3, Kleiman explica as estratégias de processamento do texto, abordando, agora, os elementos formais que concretizam o significado. É neste capítulo que observamos aspectos referentes à gramática normativa, como pontuação, classes de palavras, elementos coesivos, e percebemos que todos eles estão conectados dentro de um texto, e não isolados dentro de um livro de gramática. É um capítulo também interessante para professores, pois faz refletir a respeito do ensino de gramática feito de maneira isolada. Da mesma maneira, é interessante para quem escreve, pois trata de temas como linearidade do texto e ordem dos parágrafos, coesão e coerência, importância do título, etc.
Finalizando, no capítulo 4, a autora comenta a interação na leitura de textos. A atividade de leitura é interativa, como apontei no início desta resenha: eu a escrevo e você a lê. Portanto, como aborda Kleiman, é um processo de responsabilidade mútua, em que o autor tem de mapear claramente as pistas para a construção de significado e o leitor tem de estar disposto a fazer releituras, inferências, análises, a fim de compreender, assim como não deve ficar preso às suas crenças e opiniões, para observar o ponto de vista do autor.
Além disso, o autor deixa pistas sobre seu posicionamento através de modalizadores, adjetivações, nominalizações (olha a gramática aí outra vez!) e cabe ao leitor realizar essas análises. A percepção dessas marcas torna a leitura mais crítica e o leitor mais proficiente, o que é pouco feito na escola.
Logo, podemos observar que este é um livro que desperta várias reflexões e que nos faz pensar na prática, seja como aluno/leitor ou como docente.
Espero que você tenha feito suas inferências e tenha percebido que o objetivo dessa nossa interação foi chamar novos leitores para essa obra importantíssima para nós, futuros professores de língua e literatura.
Que a leitura de Texto e Leitor seja tão prazerosa para você, como foi para mim. E que surjam mais muitas reflexões em torno desta obra.

21/09/2011


3 comentários:

  1. Parabéns, Belisa. O resultado do seu trabalho ficou lindo!

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  2. Amei BELISA sua resenha! Sou apenas uma universitária dando os primeiros passos e esse livro foi escolhido pela minha mestra para apresentarmos em sala e você me ajudou bastante!

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